Confesso que nunca fui grande admirador de Peter O’Toole. Seguramente - e ao contrário de muitos outros - nunca me estimulou a ida ao cinema para ver um dos seus papéis. Embora já o tenha revisitado várias vezes na pele de Lawrence da Arábia, mas isso porque foi apenas um dos bons argumentos, que tornam o filme de David Lean num monumento cinematográfico incontornável.
Foi, pois, com algumas reservas, que me pus a ver o documentário a ele dedicado por Jim Sheridan em 2022. Que confirmei na hora e meia que dura e, de acordo com os muitos testemunhos de quem o conheceu, se resume a isto: O’Toole era um irlandês, com sangue igualmente escocês, que trabalhou eficazmente o sotaque inconfundível de um presunçoso lord inglês. Brilhante ator shakespeareano tinha uma memória invejável, que o levava a decorar os diálogos das peças e dos filmes de fio a pavio. Mas era um bebedor sem freio, aqui e além também tentado pela cocaína. O que lhe fundamentava um feitio irascível que nos leva a lamentar, sobretudo, a triste sorte de Sian Phillips, a conjugue, também atriz, que muito lhe terá aturado.
Se T. H. Lawrence foi personalidade fascinante na sua misantropia tormentosa, O’Toole foi apenas um bom ator entregue aos desvarios de vícios vários, que nos dariam vontade de, acaso dele nos aproximássemos, logo nos pormos a largas milhas.
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