segunda-feira, janeiro 01, 2024

Uma certa má consciência norte-americana

 

Uma enésima oportunidade para rever E Tudo o Vento Levou no magnifico Technicolor da versão restaurada de 1998 - esta noite no canal franco-alemão Arte! - dá-nos a possibilidade de recordar como foram tantos os excelentes filmes da colheita hollywoodiana de 1939, que se viram preteridos dos óscares por este filme assinado por Victor Fleming, mas muito da lavra de George Cukor ou Sam Wood enquanto o par de protagonistas não cuidou de os fazer despedir.

Se o filme em que o amor entre Scarlett O’Hara e Rhett Butler se revela, sobretudo, uma história de desejo, envolvendo Ashley como terceiro vértice do triângulo escaleno, vale a pena recordar que esse foi o ano em que John Ford assinou Cavalgada Heroica e A Grande Esperança, Frank Capra pôs o inocente Deeds a pedir a palavra em Washington, o mesmo Victor Fleming - qual cuco oportunista! - também assumiu a autoria de O Feiticeiro de Oz em que outros já tinham dado importante contributo, ou ainda de Wyler surgira a fascinante versão de O Monte dos Vendavais.

Há cenas, que já conhecemos de cor - o incêndio de Atlanta, a fuga para Tara ou o travelling que começa em Scarlett e avança até à panorâmica sobre o campo de batalha pejado de mortos e feridos, culminando na bandeira da Confederação. E, se é certo que subsiste um cheirinho a racismo, a força da natureza, que era Hattie McDaniel - que ganharia um envergonhado óscar pelo feito! - permite reconhecer alguma má consciência por todo o crime, que a escravatura constituiu.

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