Poucos devem ter sido os que não leram pelo menos um dos muitos romances de Agatha Christie, ou não viram uma das adaptações deles produzidos para o pequeno ou o grande ecrã. Com tantos títulos disponíveis, pode-se dizer fácil dar com um deles nas mais improváveis ocasiões. Só a Bíblia ou as peças de Shakespeare (pelo menos no Reino Unido!) parecem rivalizar com o sucesso comercial das suas díspares edições.
O meu encontro com os seus livros deu-se na adolescência, quando as férias de verão pareciam não ter fim e as horas soalheiras aconselhavam o recato caseiro antes das grandes “futeboladas” do fim da tarde.
Sentado na marquise, diante de um campo com árvores e relva, avançava nos pequenos volumes da coleção Vampiro, alternando-os com os de ficção científica da que integravam a Argonauta. Mais tarde, nas errâncias oceânicas, também levava um dos volumes das Obras Completas para os ir digerindo a par de títulos de outra ambição literária.
A fórmula utilizada pela autora para consubstanciar as suas intrigas continuam a ser muito eficazes nos dias de hoje. O sentido de observação de Hercule Poirot ou de Miss Marple continuam a estimular-nos porque, ao mesmo tempo, são acompanhadas de um refinado tipo de elegância e sólida inteligência. Por muito que seja paradoxal que um belga baixote e bigodud, ou uma velha senhora tenham integrado o reduzido círculo de detetives famosos deste género literário.
Razão, que justifica o interesse por conhecer o método criativo de Agatha Christie para alcançar um tal sucesso. Porque foi manifesta a sua capacidade para enfiar o leitor num labirinto, dando-lhe aí a mão para o levar de regresso até à saída numa surpreendente cena final em que todas as peças do puzzle intelectual, entretanto criado, se juntam e ganham sentido. Atónito, ele mal dá pelo percurso que faz, mas saboreia com gosto a viagem, que o fez distrair-se com pistas falsa num cenário o mais das vezes tranquilo.
Numa entrevista ouvimo-la explicar a principal razão de tal sucesso: o nunca ter frequentado a escola. E eis uma boa explicação para ter explorado a imaginação, que a disciplina das salas de aula coarta. Porque foi com ela que criou um universo próprio que ganha a atratividade de um bem sucedido buraco negro...
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