domingo, janeiro 07, 2024

A fotografia e o canto enquanto armas

 

1. A fotografia pode ser uma arma:  é uma evidência que, desde cedo, se associa à arte de que Daguerre foi um dos mais notáveis criadores. Nestes quase dois séculos desde o seu surgimento não têm faltado exemplos de fotógrafos decididos a captarem instantes da realidade e apostados em, pela sua exibição, transformarem-lhes o fundamento.

Manit Sriwanichapoom é tailandês e criou a personagem de Mr. Pink, um homem vestido de cor-de-rosa a passear um carro de compras de supermercado pelas manifestações do consumismo exacerbado dos nossos dias. Paradoxalmente os que morreram em prol da Democracia parecem não ter conseguido melhor do que a predominância da sensação de só se ser feliz se capaz de adquirir algo e assemelhar-se a uma ilusão de estereotipo ocidental. E, no entanto, com o olhar vago perdido algures, o miúdo que come um hambúrguer do McDonald’s não tem um ar particularmente exultante enquanto deglute a sua refeição...

A imagem apela para o que de mais essencial pode ter a vida e escapa às quimeras do consumismo acéfalo.

2. O canto também pode ser subversivo e essa é constatação verificável em todas as latitudes. A ayla, que pode traduzir-se por grito, é uma arte marroquina particularmente importante durante a luta contra a colonização, quando serviu de apelo à luta contra a repressão do ocupante. Porque, sendo na origem um canto dos campos que emitiria mensagens religiosas ou cantara as alegrias e os sofrimentos do amor, foi oportunamente desviado para versos transgressores entoados num dialeto inacessível à compreensão dos franceses.

Ainda hoje é celebrada a memória da cantora Kharboucha enquanto mártir de tal luta.

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