1. Da imperatriz Sissi ficou na História a ideia de uma mulher profundamente infeliz com uma vida marcada pelas tragédias, mormente a das mortes trágicas do primo Luis da Baviera, ou do próprio filho, culminadas no seu próprio assassinato em 1898. Romy Schneider, que a interpretou em registos díspares, consoante dirigida por Ernst Marischka ou Visconti, muito contribuiu para a criação de uma mistificação glamourosa da vida da personagem.
A confirmar essa tristeza permanente estão os retratos em que os lábios se lhe crispam fechados, completamente avessos à tentação do mais leve sorriso.
António Victorino de Almeida dá, porém, uma explicação menos romântica para tão sorumbáticas poses: a imperatriz tinha uma dentição horrível, que procurava esconder com a ocultação de tão notórias cáries.
Assim se demonstra quão útil lhe foi este lado comprometedor da sua beleza para melhor compor uma imagem idealizada, que não correspondia à realidade.
2. Confesso ter apreciado a atribuição do Nobel a Annie Ernaux, apesar de melhor terem-se justificado os anteriormente atribuídos a Le Clézio ou a Modiano, e os que, em alternativa, tivessem premiado Quignard ou Échenoz. Mas a postura cívica da escritora, amiúde na vanguarda de grandes lutas pelos direitos das mulheres e dos explorados, justificou esse agrado.
Ao ler-lhe agora O Jovem tenho de reconhecer que, apesar do estilo feito de parágrafos curtos a apresentarem evolutivamente a história numa sequência cronológica, existem razões para dar alguma razão aos críticos pela natureza umbiguista de um tipo de enredo cingido a variações repetitivas dos criados em obras anteriores.
Temos de volta os breves amores com quem não se chega a ter uma relação mais profunda do que a suscitada pelos prazeres canais porque, como a generalidade dos homens dos pretéritos romances, existe uma superficialidade congénita a que a natureza ciumenta não acrescenta encanto.
Daí alguma insatisfação com uma leitura que, de positiva, teve a virtude de ser breve, porque a novela esgota-se em menos de uma trintena de páginas.
3. Com inteira razão queixa-se Carmo Afonso da mistificação em curso por quem tenta dar do governo da Geringonça uma leitura deturpada, como se a generalidade dos portugueses o não tivesse apreciado e os resultados económico-sociais não tivessem desmentido todos os augúrios diabólicos, que lhe prenunciavam.
Eis mais um bom exemplo de como as direitas procuram subscrever a máxima goebbelsiana sobre as virtualidades de se repetir mil vezes a mesma mentira.
Embora com custos terríveis as falsidades nazis acabaram derrotadas. Assim o merecem ser as recorrentemente enunciadas pelos dos parlapatões das várias direitas mais ou menos extremadas.
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