Há a silhueta do barqueiro a remar no mar azul esverdeado, acompanhada de outras, mais indistintas e distantes, a produzirem o efeito de profundidade. O vermelho alaranjado do sol é a única cor quente do quadro a refletir-se na superfície líquida. E, mais longe, mergulhada na bruma cinzento-azulada, está o porto do Havre com linhas verticais feitas de mastros de barcos, chaminés de fábricas e gruas.
Monet reflete a influência das obras de Turner, que estudara durante a estadia em Londres no ano anterior, mas também a das estampas japonesas, que definiram a regra do quadro dividido em três partes: o terço superior dedicado ao céu e os outros dois consagrados ao porto. Mas a composição, quase abstrata, capta o fugidio instante em que a luz do dia está a impor-se na paisagem.
Impressão, Sol Nascente, provavelmente pintado em 1872 a partir da janela do quarto de hotel onde Monet se instalara com a mulher durante uma das suas muitas visitas à cidade natal, é a obra anunciadora do Impressionismo, termo que começou por ter conotação pejorativa pela pena do jornalista Louis Leroy, que sobre ele escreveu a propósito da visita ao Salão dos pintores, escultores e gravadores no Boulevard des Capucines, em abril e maio de 1874, e o escandalizou por romper com os cânones académicos dos artistas prezados pelo gosto conservador da época.
Não tardou que outros críticos adotassem o termo num sentido positivo nele abarcando as obras que Monet e outros jovens artistas estavam a criar com a obsessão de cristalizarem na tela a magia de um instante...
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