1. A notícia da morte de Monica Vitti surpreendeu-me porque, sem ter tido motivos para tal, já a julgava há muito desaparecida do mundo dos vivos dada a escassez de notícias a seu respeito. Afinal o Alzheimer tê-la-á feito decair durante quase vinte anos até voltar a dela nos fazer lembrar pelos piores motivos. E, no entanto, também é a oportunidade para a revermos, bela e esfíngica em «l’Avventura» (1960) e outros filmes de Antonioni, e a descobrirmos versátil e divertida noutros filmes das décadas seguintes, mormente em «O Mistério de Oberwald» (1980), que deverá ter sido a ultima interpretação que dela vi.
Apesar de uma filmografia relativamente curta e espaçada num lapso de tempo igualmente apertado, Monica Vitti fica definitivamente como um dos mais icónicos rostos cinematográficos da segunda metade do século XX.
2. Na recente mostra Kino Festival 2022, agora concluída, um dos filmes mais estranhos da sua programação terá sido «Jumbo» da belga Zoe Wittock (2020).
É o reencontro com Noémie Hubert, que descobríramos em «Retrato de Mulher em Chamas», cuja estreia ficara condicionada pelo surgimento da pandemia.
Aqui ela é Jeanne, uma rapariga tímida com personalidade totalmente oposta à da exuberante mãe, e que se apaixona pela máquina contratada pelo parque local para servir de principal atração durante o verão.
Se David Cronenberg daria ao tema uma direção bastante mais perversa e estranha, Wittock segue uma lógica mais convencional bastando aceitar o objeto de desejo de Jeanne como metáfora de outras alternativas (uma outra mulher, etnia, idade), que conflituasse com a opinião dominante de quem a rodeia.
Trata-se, no fundo, de uma abordagem do amor sem limites, que Hubert, o namorado da mãe de Jeanne, considera perfeitamente aceitável: “e porque não?”.
Vai-se a ler uma entrevista com a realizadora e damos com o facto dela se ter inspirado num caso recente e real de uma mulher apaixonada pela Torre Eiffel e capaz de levar a relação ao extremo de com ela se casar. Razão para acreditarmos, que a vida consegue ser muito mais bizarra do que a julgamos possível.
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