quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Café Society (2016)

 

Passada a época dourada dos seus melhores filmes—os doze anos decorridos entre «Annie Hall» (1977) e «Crimes e Escapadelas» (1989) -, olho para os filmes de Woody Allen com a complacência de sabê-los suficientemente interessantes para lhes justificar a atenção, mas sem esperar o regresso ao que tanto nos fez admirá-lo nesse período.

Voltou a ser assim com a revisão deste «Café Society» em que vemos Jesse Eisenberg a tomar conta do papel de alter ego do realizador. Filho de um joalheiro judeu de Nova Iorque, procura libertar-se da asfixia familiar procurando um tio em Hollywood, esperançado em conseguir trabalho na sua empresa de agenciamento de estrelas. Estamos nos anos 30 e é a época das Garbo, dos McCrea e outros grandes atores da época, que frequentam as festas daquele que se torna seu patrão.

Bobby Dorfman - é esse o nome do protagonista - conhece outra empregada da agência e, imediatamente dela se enamora: Vonnie,  interpretada por Kristen Stewart, é quem lhe dá a conhecer Los Angeles num périplo, que serve para a empatia amorosa entre ambos cavalgar.  O problema é ele saber-se num trio amoroso por ela revelado sendo o namorado um homem casado em vias de se divorciar da mulher para com ela se casar. O artifício da comédia constrói-se a partir do facto desse terceiro vértice do triângulo ser o próprio tio do rapaz, que só muito tardiamente o descobre, acabando por ser ele o escolhido por Vonnie para definir-se afetivamente.

De volta a Nova Iorque Bobby torna-se gerente do cabaré do seu irmão Ben, um gangster que resolve expeditamente todos quantos constituem obstáculo às suas ambições, matando-os  e enfiando-os debaixo de uns metros de betão armado.

Para que os cânones do género continuem a ser respeitados, Bobby casa com uma outra Vonnie, que logo lhe dá uma filha, mas não consegue fazê-lo esquecer a anterior num sentimento que confirma ser por ela partilhado, quando se voltam a encontrar por três vezes nos meses seguintes.

Reencontramos, pois, muitos dos temas allenianos, com particular incidência nos que correspondem à distância entre os sonhos e as realidades, ou entre o respeito pelos valores da diferença e os compromissos que o amadurecimento suscita. E, tendo em conta a sempre competente fotografia de Storaro ou a banda sonora, que tanto ajuda a compor a ambiência da época, Woody Allen criou obra enxuta, à medida do inquestionável talento. 

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