Há muitos espetáculos que nunca mais esqueci. Foram momentos jubilatórios em que senti o tempo a dilatar-se como se os relógios parassem e aquela tremenda emoção nunca mais viesse a ter fim. Mas quando tal aconteceu e a realidade ganhou a forma dos bravos e das palmas inesgotáveis do rendido público, foi como se despertasse de um sonho irrepetível abandonado com pena, com muita pena. E, nos casos em que os voltei a buscar na sua repetição já não consegui o mesmo deslumbramento, porque fora único no momento da descoberta. Mesmo aparentemente igual acabava por ter algo de dejá vu, que continuava a ser admirável, mas sem chegar à hiperbólica experiência anterior.
Invejo, porém, os momentos muito especiais que, construídos à distância, me foram inacessíveis quando ocorreram. Um deles teria sido o de estar presente numa das récitas da Traviata do festival de Salzburgo em 2005, quando Anna Netrebko fez de Violeta e Rolando Villazón de Alfredo, com o bónus de Thomas Hampton interpretar o papel do pai do protagonista. Apanhando os cantores no momento culminante do seu percurso, ganhou foros de lendária, porque tornou-se única na sua perfeição. Incrivelmente erótica nas cenas, que justificavam essa vertente, profundamente trágica, quando o desenlace se produzia, esse registo mostrava a esbelta russa antes de ganhar os muitos quilos que, hoje, carrega em palco (mesmo que com incontestado virtuosismo) e o franco-mexicano com a voz incólume dos efeitos causados pelos exageros a que a sujeitou por desmedida ambição e pela consequente depressão, de que parece estar a libertar-se.
De muitas obras podemos escolher as interpretações, que as tornaram superlativas em comparação com todas as demais. No caso desta ópera de Verdi duvido que haja produção, que a consiga igualar, quanto mais superar.
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