Nunca fui um entusiasta da filmografia de Ron Howard por muito que tenha tido bastante prazer na adaptação cinematográfica sobre um acontecimento, que me causou ansiosa inquietação na adolescência: o regresso à Terra da Apolo 13.
A propósito do documentário sobre os Beatles as expetativas não eram grandes: tarimbeiro competente para adaptações dos romances de Dan Brown, imaginá-lo-ia limitado à seleção da perspetiva mais conforme com o que lhe ditaria o gosto do público mais convencional.
Não é que me tenha enganado, mas manda a verdade reconhecer que os Beatles conseguem, por si mesmos, superar todas as tentações de os banalizar numa perspetiva corriqueira. E talvez porque Yoko Ono esteve envolvida na produção, Howard teve o bom gosto de furtar-se a explicações para o fim do grupo, que conferissem à performer japonesa a dimensão de uma Lady Macbeth. Ao invés fundamentou o fim do fenómeno no profundo cansaço suscitado pelas tais semanas de oito intensíssimos dias do título.
É claro que Howard puxa a brasa à sua sardinha e dá particular relevância às tournées pelos States, quase nada referindo sobre a importante descoberta da Índia e dos seus misticismos na evolução do grupo. Mas fica o foco na inexplicável histeria coletiva, que o grupo causava, quando atuava em público ou quando chegava ao aeroporto de cada cidade. Nesse aspeto os testemunhos de Whoopi Goldberg ou de Sigourney Weaver sobre a forma como, elas próprias, viveram essa beatlemania, se não a explicam, colorizam-na de forma saborosamente irónica.
É claro que um tal fenómeno de massas permite múltiplas leituras, sendo a de Howard apenas uma de entre elas. Mas, ao fim de uma hora e três quartos na versão a que assisti, confesso ter visto excedidas as minhas iniciais expetativas...
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