quarta-feira, novembro 03, 2021

Ron Howard, The Beatles: Eight Days a Week (2016)

 

Nunca fui um entusiasta da filmografia de Ron Howard por muito que tenha tido bastante prazer na adaptação cinematográfica sobre um acontecimento, que me causou ansiosa inquietação na adolescência: o regresso à Terra da Apolo 13.

A propósito do documentário sobre os Beatles as expetativas não eram grandes: tarimbeiro competente para adaptações dos romances de Dan Brown, imaginá-lo-ia limitado à seleção da perspetiva mais conforme com o que lhe ditaria o gosto do público mais convencional.

Não é que me tenha enganado, mas manda a verdade reconhecer que os Beatles  conseguem, por si mesmos, superar todas as tentações de os banalizar numa perspetiva corriqueira. E talvez porque Yoko Ono esteve envolvida na produção, Howard teve o bom gosto de furtar-se a explicações para o fim do grupo, que conferissem à performer japonesa a dimensão de uma Lady Macbeth. Ao invés fundamentou o fim do fenómeno no profundo cansaço suscitado pelas tais semanas de oito intensíssimos dias do título.

É claro que Howard puxa a brasa à sua sardinha e dá particular relevância às tournées pelos States, quase nada referindo sobre a importante descoberta da Índia e dos seus misticismos na evolução do grupo. Mas fica o foco na inexplicável histeria coletiva, que o grupo causava, quando atuava em público ou quando chegava ao aeroporto de cada cidade. Nesse aspeto os testemunhos de Whoopi Goldberg ou de Sigourney Weaver sobre a forma como, elas próprias, viveram essa beatlemania, se não a explicam, colorizam-na de forma saborosamente irónica.

É claro que um tal fenómeno de massas permite múltiplas leituras, sendo a de Howard apenas uma de entre elas. Mas, ao fim de uma hora e três quartos na versão a que assisti, confesso ter visto excedidas as minhas iniciais expetativas... 

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