sábado, março 28, 2020

(DIM) Dudeísmo e panteísmo


Será que, mesmo não o querendo, e fazendo os possíveis por o não aceitar, estarei mesmo a envelhecer? A questão põe-se em função de ter revisto O Grande Lebowski, o filme dos irmãos Coen realizado logo a seguir ao excelente Fargo, e, embora rindo desbragadamente em algumas cenas, cheguei ao genérico final com uma estranha sensação de já me saber a pouco. Será porque deixei definitivamente para trás o que me restava da tardia adolescência?
Continuo a encontrar tudo o que dele me fez gostar nas vezes precedentes: uma ambiência evocativa dos romances de Raymond Chandler, mulheres influentes, mesmo que mais libertinas do que fatais, as voltas e reviravoltas em torno de um suposto rapto. Enfim até o facto de não sabermos ao longo do filme quem se apoderou do milhão de dólares metidos numa mala para pagar o resgate. Ou se esse milhão sequer existiu...
Igualmente encontramos atores e atrizes que nos regalam com interpretações de excelência. Sobretudo Jeff Bridges no papel do Dude, mas também John Goodman, Julianne Moore, Steve Buscemi, John Turturro (inesquecível no desempenho de Quintana!), Ben Gazzara, Philip Seymour Hoffman ou Sam Elliott.
Existem todos esses argumentos para justificar a razão porque ganhou a condição de filme de culto, mas O Grande Lebowski acaba por ser gratuito no essencial: entre o dudeísmo, que alguns adotaram como religião, mas mais não é do que preguiça, e o niilismo dos falsos raptores alemães nada de substantivo os diferencia. Uns e outros assumem estilos de vida, mas ela pouco interesse tem quando se resume a lançar umas bolas numa pista de bowling.
Outro interesse é o de Sortilégio, um filme tunisino com poucas hipóteses de ser estreado nos nossos cinemas. Realizado por Alaeddine Slim, que se confessa avesso a panteísmos, acaba por sugerir essa filiação através do encontro de duas personagens frágeis, de mal consigo mesmas e apostadas em alcançarem alternativa numa estranha floresta.
Ele é um soldado, que desertou da caserna, tendo o exército a procura-lo, e ela é uma mulher rica apostada na rutura com o ambiente donde vem por causa da gravidez. O que melhor ressalta no filme é a aparente subordinação ao que Terrence Malick vem fazendo na recente segunda vida como cineasta, mesmo que essa inspiração pareça esdrúxula a Slim.

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