Anton Bruckner foi um génio incompreendido na versão do documentário de 2019 assinado pelo musicólogo Reiner Moritz. E, de facto, pecador me confesso, só tardiamente abri os ouvidos para a sua obra, porque o entendia compositor menor, ademais associado a características pouco abonatórias quanto ao carácter inovador da sua arte: típico conservador, que quase nunca conheceu o mundo para além do eixo entre Ansfelden, cidade de província onde nasceu em 1824, e Viena, onde morreria septuagenário, Bruckner sempre falou com pronunciado sotaque e nunca convenceu nenhuma das mulheres, por quem se apaixonou, a livrá-lo da provável virgindade com que foi para a cova.
Não há, porém, falta de testemunhos sobre o suspeito prazer, que lhe costumava dar a exagerada demonstração desse lado caricatural do seu feitio.
E, no entanto, dedicando atenção às suas sinfonias, compreendemos o quanto se distanciam das que andavam a ser compostas por essa altura, acabando por influenciar a música erudita do século XX, ao assumir a condição de pioneira nos seus tons.
Daí os elogios de Kent Nagno, Valery Gergiev e Simon Rattle, que não deixam de reconhecer o quão exigentes são as suas partituras.
Ficam ainda revelações singulares como a de ter solicitado autorização para estar presente na transladação das ossadas de Beethoven e de Schubert, e de como causou estupefação aos presentes ao tomar em mãos a caveira do compositor do ciclo Winterreise.
Necrofilia como alguns de tal o acusaram? Ou tão só a expressão devota dos católicos ao tocarem nas relíquias a que atribuem maior relevância?
Até nos detalhes da biografia, Bruckner acaba por permitir as conjeturas mais contraditórias, que não inibe o gozo manifesto da fruição das suas obras...
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