Só agora vi a versão longa - de duas horas e um quarto - do filme, que Rui Simões assinou em 1980 na ressaca da Revolução de Abril e compreendi como lavrara em erro quando o dava como efetivamente conhecido na versão curta, que conservava na memória depois de visto há uns bons anos.
É apaixonante regressar à excitação jubilatória, quando uma grande maioria acreditou ter o futuro nas mãos, esquecidos das forças a agitarem-se na sombra, mormente os serviços secretos a soldo do imperialismo ianque, e às claras, com destaque para a permanente ação conspiratória da Igreja Católica.
Se, durante uns meses, foi possível acreditar na possibilidade da Utopia, pondo fim às guerras nas ex-colónias e nacionalizando as empresas mais determinantes para a criação de um modelo alternativo de economia Bom Povo Português já comporta um discurso crítico (lido por José Mário Branco) sobre uma transição “democrática”, que voltou a impor uma realidade feita de quem mande (e lucre com isso...) e quem obedeça (mal sobrevivendo com o seu labor).
Se, como cantava o autor do FMI, foi possível ver este povo a lutar para a sua exploração acabar, o resultado, cinquenta anos depois, trouxe um saldo positivo no acesso a algumas liberdades fundamentais, mas pouco melhorou na capacidade de suscitar a esperança em amanhãs cantantes!
O pessimismo continua na ordem do dia...
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