segunda-feira, novembro 11, 2024

APONTAMENTOS CINÉFILOS (XXVI): De vítimas de um genocídio a perpetradores de outro

 

A lenda demonstra-o: quem a criou no século XIII dando do judeu a falta do carácter do sapateiro sem compaixão, que terá instigado Jesus a desamparar-lhe a loja, quando carregava a cruz a caminho do Calvário, quis alimentar os preconceitos antissemitas preceituados por Santo Agostinho. Foi o catolicismo a criar as condições para todos os crimes perpetrados contra os judeus desde então. Para os criadores da história desse mito Jesus revela-se uma personalidade vingativa, que transfere para o artesão o rancor causado pelas suas dores.

Sete séculos depois a lenda alimentou a propaganda nazi, mormente no célebre Judeu Suss, que Veit Harlan realizou em 1940 e constituiu eficaz instrumento ao serviço dos que organizavam pogroms na Europa ocupada. Mas esta Fabulosa História do Judeu Errante, que  Pierre-Henry Salfati rodou em 2022 a partir do seu livro homónimo, também mostra como há algo desse lendário personagem no Quixote de Cervantes, e até em expressões de messianismo social em prol dos mais desfavorecidos, que inspiraram Appollinaire, Tolstoi, Hans Christian Andersen ... ou até um certo Charles Chaplin na conceção do seu Charlot.

Numa altura em que palestinianos e libaneses andarão a lamentar que os israelitas não continuem sujeitos à permanente diáspora dado o resultado do fanatismo com que pretendem apossar-se de uma região, que nunca foi verdadeiramente sua, é caso para lembrar que, noutro libelo antissemita, o doutor Charcot associava a loucura judaica a essa viagem permanente. Abstraindo da sua natureza racista é caso, porém, para questionarmo-nos se toda a mitologia de que se imbuíram os judeus, ademais potenciada pelo Holocausto, não lhes criou um condicionamento psicológico propenso para não mostrarem o menor escrúpulo em tornarem-se, eles mesmos, genocidas.

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