Numa altura em que Ramalho Eanes - esse logro da Democracia, que alguns teimam em santificar! - prepara-se para avalizar o 25 de novembro como uma data, que assinalaria a “vitória” das direitas contra o papão comunista - exemplo lapidar de pensamento mágico muito à posteriori! - a revisão de A Lei da Terra continua a ser pertinente apesar dos mistificadores de hoje decerto o considerarem documento datado, espelho de uma época, que foi a dos seus piores pesadelos.
Realizado com a competência de Alberto Seixas Santos e dos seus colaboradores no Grupo Zero, constitui testemunho da situação ignóbil em que (sobre)viviam os camponeses alentejanos antes do 25 de abril, quando sujeitos à exploração dos latifundiários.
Se nos romances de José Saramago ou Manuel da Fonseca temos essa condição denunciada por palavras, o filme dá-nos os rostos dos que a viveram na própria pele. E sente-se-lhes, na voz e na expressão corporal, não só a indignação com a pobreza e as iniquidades de que foram vítimas, mas também a grande esperança na Reforma Agrária de que depressa se viram espoliados. E essa é outra grande virtude deste documentário: dar igualmente voz e rosto aos que contra ela lutaram, muitas vezes contra os seus próprios interesses.
Espelho de um Portugal subdesenvolvido, que Salazar quisera “pobrezinho e honrado”, também aqui se encontram as explicações implícitas para a forte presença da extrema-direita no Alentejo de hoje: entre os que ainda não se livraram dos medos quanto à tal ameaça vermelha e os que com ela se desiludiram por não ter tido força para lhes alimentar a vontade de uma vida melhor, conjugam-se os ressentimentos dos preconceituosos e dos frustrados.
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