Entre une destinée particulière e o destino único, com que a RTP decidiu traduzir o título do documentário de Julia Bracher sobre a biofilmografia de Sophia Loren, vai uma distância, que menoriza o sentido do original, não só porque passa por cima da conotação da belíssima obra de Ettore Scola, a última deveras importante por ela protagonizada, mas também por dedicar-se a um percurso singular e improvável, logo justificado no incipit - a referência às exageradas dimensões do nariz, da boca, das ancas e da morena tez -, mas não faltarem exemplos de outros improváveis sucessos mediáticos de quem se transformou em símbolo sexual apesar das alegadas imperfeições.
O que singulariza Sophia Loren - para além do óbvio talento de representar tão convincentemente o papel de mãe extremosa quanto o de prostituta - é a liberdade da sua conduta, que nunca se formatou às convenções, quando acreditou nas prioridades de quem queria ser.
O documentário tem a vantagem de juntar peças de arquivo suficientemente eloquentes para confirmar a tese sobre a sua excecionalidade e não trata com pinças as polémicas com o Vaticano por causa da relação com Carlo Ponti, nem se furta à referência do concomitante romance com Cary Grant, com quem esteve também prestes a casar.
Seria pedir-lhe demais que se tivesse distanciado da irmã quando ela avançou para o casamento com o filho de Mussolini, dando-lhe a sobrinha, que se tornaria figura grada do neofascismo transalpino? Mas basta recordá-la na Ciociara, nas comédias de Vittorio de Sica, ou no filme de Scola para dela retermos o essencial: foi uma das grandes atrizes do século transato.
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