As saudades que ficam do tempo em que descobríamos filmes alternativos nas quatro pequenas salas do Quarteto! Logo em 1975 Pedro Bandeira Freire deu-nos a conhecer um tipo de cinema, que víamos igualmente noutras salas - Apolo 70, Satélite, Universal. Estúdio do Império - mas facilitando-nos o bom hábito de sair de uma sessão e logo entrar noutra ali ao lado para uma maratona de dois, três, quiçá quatro filmes de seguida.
Ariel, o segundo filme da impropriamente designada trilogia proletária de Aki Kaurismäki, estreou-se naturalmente numa das salas da Rua Martens Ferrão e alertou-nos para um realizador finlandês, que adotava um estilo minimalista em que os acontecimentos mais relevantes ficavam, amiúde, fora de campo. Exemplo dessa elipse é a de uma das cenas iniciais do filme em que o pai do protagonista suicida-se com um tiro na cabeça na casa de banho depois de lhe entregar o único património, que conseguira ao fim de uma vida de trabalho: um Cadillac.
Taisto, que ficara desempregado depois do fecho da mina de carvão da cidade, parte à procura de nova vida, saindo da Lapónia natal em direção ao sul do país, onde rapidamente se vê espoliado das magras economias com que aí contava instalar-se.
Quando reencontra um dos ladrões consegue agarrá-lo e tirar-lhe a faca com que ele tenta defender-se, mas a polícia surge nessa altura e leva-o a julgamento, de que sai condenado a dois anos de prisão. Por essa altura já o Cadillac ficara pelo caminho, mas nele viera impor-se uma antiga polícia de trânsito, Irmeli, de quem se tornara breve amante, e que o ajuda a escapulir-se do presídio ao enviar-lhe uma serra escondida num bolo de aniversário. Embora perca o companheiro de cela, que o ajudara na fuga, Taisto, Irmeli e o filho desta encontram um happy end à conta do embarque para um porto distante ao som da versão finlandesa do Over the Rainbow.
Por tornar credível o que, à primeira vista, o não deveria ser, Ariel ficou como exemplo de um tipo de obra capaz de nos surpreender, provando que a realidade pode ir além do mais expetável...
O filme completo pode ser visto no site: https://archive.org/details/1988KaurismakiAriel
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