Nos últimos anos Bolsonaro alavancou o Brasil como campeão mundial da agrotoxicidade, o que fez jus ao anúncio feito aos industriais do setor químico, quando tomou posse, considerando-se seu empregado. Em vez de olhar para todos o povo brasileiro como seu legítimos patrão foi para os grandes interesses económicos, que perfilou-se como submisso intendente.
O documentário de Stenka Quillet, estreado há três meses, denuncia outra vertente do crime ecológico e de saúde pública relacionado com a disseminação de pesticidas por todas as grandes plantações brasileiras, ativas consumidoras dos produtos já proibidos na União Europeia. A indústria química europeia ali acrescenta avultados e obscenos milhões de euros aos anteriormente faturados enquanto Bruxelas não decretou o seu banimento. E contando, por exemplo, com Pélé como rosto publicitário de incitamento a esse indecoroso negócio.
O cinismo europeu, que finge ignorar os rentáveis negócios das alemãs Bayer e Basf ou da suíça Sygenta, exportadoras de 80 mil toneladas de pesticidas proibidos para o resto do mundo com a cumplicidade de políticos corruptos, traduz-se numa bomba ao retardador, que se manifesta em malformações e problemas de crescimento em crianças e a presença de compostos químicos danosos para a saúde na água potável das torneiras. Cedendo vergonhosamente aos interesses dos lóbis do setor a Comissão e o Parlamento europeus são coniventes com o facto dos consumidores do Velho Continente apanharem esses produtos tóxicos por ricochete, quando comem laranjas, melões, soja ou café oriundos de um país, onde o próprio governo tem sido conivente com os assassinatos de ativistas ambientais e os juízes dos tribunais - muitos deles também latifundiários! - produzem sentenças sempre favoráveis ao agronegócio.
O filme de Stenka Quillet é elucidativo quanto ao que está em causa com essa conivência europeia relativamente ao gigante político sul-americano, onde acelerou nos últimos anos a deflorestação amazónica. E, mesmo com Lula de regresso à chefia do Brasil, nada aponta para que este tipo de negócios não prossiga como habitualmente prejudicando-nos dia-a-dia num quotidiano em que, sem darmos por isso. são muitos os venenos ingeridos no que comemos ou bebemos.
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