Será um dos muitos itens da check list dos lugares a visitar, que ficará por contemplar com o respetivo visto. E, no entanto, até estive em Pequim no início do milénio, mas sem que os compromissos profissionais me tivessem dado o ensejo a aproveitar a oportunidade para conhecer o enorme palácio, que o imperador Yongle mandou construir entre 1406 e 1420, mobilizando para o efeito um número desconhecido de centenas de milhares de operários escravizados.
Yongle usurpara o trono ao sobrinho, que fora indigitado pelo próprio pai para lhe suceder no trono, desfeiteando-o da satisfação de uma ambição, que sentia sua por legítimo direito. Mesmo esmagando cruelmente a rebelião, que pretendia manter no trono quem o defunto imperador determinara como indigitado para tal, Yongle sabia que a capital, Nanquim, permaneceria hostil ao seu reinado. Daí a decisão de mudar a capital para Pequim, mandando ocupar os 72 hectares da futura Cidade Interdita, com um labirinto de palácios destinados à sua administração, às concubinas e eunucos, função que seria a sua nos cinco séculos seguinte, e também integrando templos, pontes de mármore e jardins simétricos.
O documentário de Ian Bremner desenvolve as condições históricas em que a construção se processou enquanto visível demonstração de poder do novo imperador mas, sobretudo, explicita a extraordinária estrutura de madeira, que a suporta, apenas baseada no encaixe das respetivas peças em vez de fundamentada numa qualquer argamassa. Atenção particular é dada às suas potencialidades antissísmicas, exemplarmente demonstradas nos muitos e violentos abanões padecidos numa região particularmente sensível a esse fenómeno natural.
É claro que um filme não substitui o prazer de sentir o espírito de um lugar enquanto o visitamos, mas o de Bremner quase satisfaz por completo essa frustração de sabê-lo inacessível no futuro, que nos resta.
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