sexta-feira, outubro 14, 2022

Histórias: ficcionadas umas, reais outras, falaciosas as demais

 

1. Que bem sabe ver um excelente filme sobre a vida real de quatro famílias romanas, pródigas em inquietações e tristezas, nunca encontrando as alegrias de que, em tempos, se terão sentido merecedoras. Numa Itália a tender para a extrema-direita, Nanni Moretti nem precisa de uma abordagem declaradamente política para caracterizar o ar dos tempos no seu país, porque entre um casal frustrado com o resultado da educação propiciada ao filho e a vizinha condenada a educar quase sózinha a filha, porque o marido está sempre ausente, entre o casal de velhos a contas com os efeitos da senilidade de um deles e a obsessão do vizinho, que teme ter tido a filha abusada sexualmente, somam-se quatro histórias, que nos são introduzidas com um início notável em que um acidente mortal logo nos esclarece quem são os condóminos de um prédio anódino.

Existe em “Três Andares” (2021) uma manifesta superioridade das mulheres sobre os homens, eles intrangisentes nos pontos de vista, elas mais assertivas, prontas a compreenderem as perspetiva alheias. Mas sem chegar a um ponto de vista feminista. Porque, como diz Moretti, para este último, que sejam as próprias mulheres a dá-lo.

2. Foi há cinquenta anos que Ribeiro Santos foi assassinado num anfiteatro do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Para assinalar o acontecimento Diana Andringa realizou “12 de Outubro de 1972: O Dia em que Perdemos o Medo” em que dá voz aos que participaram nesse acontecimento e o consideram basilar para o aceleramento do processo politico e social, que redundou na revolução de Abril.

Lamente-se, porém, que não se tenha sabido mais sobre o pide assassino. Teria sido grata a revelação de que, de uma forma ou de outra, ele terá pago pelo crime, apesar da Justiça fascista e do período pós-revolucionário o não tenham incomodado. A estar ainda vivo teria gostado que Diana Andringa tivesse-o confrontado com a sua consciência. Se é que alguma vez a teve!

3. História ainda menos conhecida a que poderemos ver amanhã ao fim da tarde na Arte: “Black Far West - Une contre-histoire de l'Ouest » de Cécile Denjean revela como a conquista do Oeste norte-americano foi empreendida por muitos negros, que viram nessa gesta  a forma de melhor se libertarem dos estigmas da escravatura. Mesmo contribuindo assim para o genocídio índio. Sendo percentualmente grande parte dos vaqueiros, também tiveram dos mais famosos xerifes das novas fronteiras, mesmo que o western os tenha depois embranquecido.

4. A CIA não se poupa a esforços para diabolizar tudo quanto possa contrariar o declínio do império norte-americano. “Des dollars pour Kim Jong-un“ de Meng Sam-hyun, Tristan Chytroschek e Cho Cheon-hyun assemelha-se à recente mistificação em torno das esquadras clandestinas chinesas nos países ocidentais. Neste caso denunciam-se trabalhadores norte-coreanos escravizados na Rússia, na China ou na Polónia para facultarem divisas ao regime de Pyongyang, assim capaz de financiar o seu programa nuclear. 

Sem comentários: