A propósito do bicentenário do nascimento de Flaubert, François Busnel dedicou um dos seus programas ao autor de «Madame Bovary», reavivando-me a vontade de aos seus romances regressar. Não tanto pelo conteúdo conservador, mesmo que cáustico em relação aos costumes aburguesados dos seus contemporâneos, mas para lhe apreciar o feminismo avant la lettre, que duas das convidadas para a ocasião lhe emprestaram.
É certo que Flaubert disse cobras e lagartos da Comuna de Paris, mas também há que levar a benefício do saldo a sua necessidade de sobrepor o que se diz ao como se diz! Ou seja, o conteúdo das intrigas poderia ser banal, mas com uma aperfeiçoada construção das frases, a possibilidade de alcançar o estatuto de obra-prima impunha-se. E se Flaubert trabalhou afanosamente para que tal acontecesse: para aquilo que resultou no seu mais célebre romance, escreveu e riscou mais de quatro mil páginas durante cinco anos, levando a obsessão em chegar-lhe ao fim à sobrecarga de, em muitos dias, dedicar a ele dezoito horas de esforço.
Se não o respeitarmos por isso, que mais precisaríamos para tal?
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