O que se pode filmar sobre uma guerra em curso e cujo resultado se desconhece? Porque, sabemo-lo bem, a sua apreciação final dependerá sempre de quem for o vencedor e doravante impuser a sua versão como a mais justa! A questão põe-se hoje a propósito do conflito na Ucrânia - mas não só, porque outros palcos de guerra estão intensificados, mesmo que esquecidos nos telejornais, apenas interessados nos que ocorrem entre caucasianos.
Nos anos 40 Chaplin com «O Ditador» e Lubitsch com «Ser ou Não Ser» foram dois exemplos maiores de como responder a essa pergunta, segundo o modelo definido por Memmi como sendo o do desesperado que, à falta de outra solução, ri. Por isso é lendária a galhofa verificada em muitas noites no gueto de Varsóvia enquanto os nazis o cercavam, prontos para o arrasarem.
Constata-se porém que, se Chaplin e Lubitsch suspeitavam de quão dramáticos estavam a ser aqueles tempos para milhões de pessoas, não podiam imaginar a dimensão dos crimes cometidos pelos nazis nessa mesma altura, mesmo se os campos de extermínio ainda não se tivessem convertido em bem organizadas linhas de produção. Por isso mesmo olha-se para o do primeiro e retém-se, sobretudo, o discurso final, o do sósia do ditador, a enunciar um libelo vibrante pela liberdade, pela democracia e - não tenhamos pejo em considera-lo! - pelo socialismo, que a todos equilibrasse nos rendimentos e demais condições sociais.
O filme de Lubitsch é mais elegantemente frívolo, embora revelador de quanto muitos se escondiam num casulo, como era o Grande Teatro de Varsóvia, e distraindo-se com os flirts amorosos e seus equívocos.
Os soldados nazis eram apresentados como marionetas e nisso mesmo assentava boa parte da estratégia para provocar o riso. Mesmo que no final ficasse a mensagem pretendida a partir da frase de Hamlet: havia que ser-se livre e humano.
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