Muito interessante a hora do seu programa na Antena 2, que Luis Caetano dedicou ao livro de memórias do poeta espanhol Antonio Gamoneda acabado de publicar pela Minotauro: Um Armário Cheio de Sombra.
A peça do mobiliário pertencia à mãe, recém-falecida e cujo conteúdo, até então para ele inacessível, suscita-lhe uma torrencial desfile de memórias sobre os seus catorze primeiros anos de vida. «Mergulhei a cabeça na escuridão do armário e então aconteceu algo que me envolveu na sua realidade física: senti o cheiro da minha mãe. Viva.»
Muito cedo órfão de pai - também ele fora poeta! - apanhou com a guerra civil filtrada pelo olhar espantado dos seus verdes anos, quando as dificuldades eram múltiplas, seja pela crueldade manifestada pela ditadura, quer pela pobreza, quase indigência, em que ele e a mãe cuidavam de sobreviver, albergados por familiares de Léon, cidade onde sempre viveu desde então.
As escolas fechadas justificaram a aprendizagem da leitura pelo único livro existente em casa, aquele que o pai ainda conseguira publicar. E, quando passa depois por um colégio de frades agostinianos, fica-lhe a marca de os descobrir nada castos.
Num livro que muito promete, a poesia está omnipresente mesmo que em formato de prosa.
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