Erri De Luca é um dos escritores que mais admiro de quantos continuam ativos na criação de romances capazes de refletirem sobre muitas das questões levantadas pelas experiências políticas e e ideológicas das décadas mais recentes. Tendo militado ativamente na esquerda radical, organizando e liderando lutas sindicais, ele dedicou-se ao alpinismo, ao estudo do hebreu e à escrita, quando esmoreceram os confrontos sociais, deixando-o a refletir solitariamente numa espécie de eremitério sobre tudo quanto vivera.
Impossible é um falso policial embora parta de uma morte suspeita nos Dolomitas para a qual a polícia fora alertada por um homem com indesmentível ligação à vítima. Um e outro tinham partilhado as lutas dos anos 70, mas enquanto o agora interrogado por um jovem magistrado mantém-se fiel aos valores de então, o outro traíra os camaradas, denunciara-os à polícia, sujeitara-os à repressão.
Embora sem provas que sustentem a tese, o magistrado pretende demonstrar que a queda fatal da vítima resultara de uma vingança tardia daquele que se mantém impassível à sua frente, respondendo serenamente às perguntas e afiançando-lhe que tudo se tratara de uma mera coincidência: quando testemunhara a queda fatal nem sequer lhe passara pela cabeça a identidade do acidentado.
Entre o inquiridor e o interrogado tudo opõe: a idade, os valores, a interpretação da realidade. E, colateralmente, vêm ao de cima os temas da justiça, da amizade, do amor. E, sobretudo, o da traição.
A tensão cresce ao longo da centena e meia de páginas, com as perguntas ardilosas a buscarem uma qualquer revelação involuntária capaz de justificar a acusação de homicídio premeditado e a segurança de quem muita sabedoria colheu ao pertencer à geração mais perseguida pela justiça italiana no século transato. O resultado é um confronto teatral transformado num subtil diálogo filosófico.
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