Há quem diga que o livro lembra As Vinhas da Ira e pode aceitar-se a opinião, porque aquilo que vivem Lydia e Luce para escaparem de Acapulco com vida e chegarem a um futuro possível na que em tempos foi tida como Terra dos Sonhos, tem muito a ver com as ilusões e desencantos que a migração comporta. Para mãe e filho não havia, porém, outra alternativa: não fosse Sebastian teimar em ser um repórter a sério, exprimindo a sua liberdade como jornalista, arriscando-se a confrontar o narcotráfico e poderiam ter-se mantido em Acapulco. Mas os interesses por ele beliscados redundaram no massacre de toda a família e só eles dois escaparam.
Para construir o seu romance, Jeanine Cummings fez um longo trabalho de identificação com a realidade desse fluxo de gente, que foge da violência a sul do Rio Grande e procura como sobreviver numa terra madrasta, que nada tem de prometida. Até conseguirem chegar a um porto de abrigo minimamente seguro oito em cada dez mulheres veem-se violadas. E, no entanto, sabendo-o mesmo antes de partirem, não hesitam em arriscar porque outra solução não lhes resta. E, mesma a permanência na terra americana está sempre ameaçada: quantas histórias reais são conhecidas de jovens, que vestiram a farda do exército do tio Sam e combateram em teatros de guerra longínquos e, regressados a casa, são postos no avião e mandados de volta para onde são tidos como naturais. Ou mesmo casos não menos revoltantes de velhos que, passados cinquenta anos, e já sem qualquer ligação ás aldeias ou cidades donde tinham escapado para elas são recambiados apenas porque foram apanhados a pescar sem licença.
O romance de Jeanine Cummings retrata uma realidade, que sabemos existente, mas a que raramente atribuímos rostos concretos. Lydia e Luce ajudam-nos a imaginá-los! E os Estados Unidos são retratados como aquilo que há muito são: um espaço impiedoso onde os mais pobres e desvalidos são facilmente atirados para a valeta.
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