terça-feira, setembro 20, 2022

Volver, Pedro Almodovar, 2006

 

Este foi o último grande filme de Almodovar mesmo que, a exemplo de Woody Allen, nenhum dos títulos posteriores mereça reparos: agradam enquanto os vemos, mas não entusiasmam tanto quanto os do período, que incluíram Tudo Sobre a Minha Mãe (1999), Fala com Ela (2002) e este Volver.

Começa com a cena do cemitério: mulheres a cuidarem das campas dos familiares e até das de si próprias, porque há quem as tenha mandado construir em vida e as mantenha irrepreensíveis, a aguardarem o momento de terem ulterior préstimo. E inicia-se assim a caracterização da região da Mancha, onde Almodovar nascera e crescera nos anos 50, a ela voltando como homenagem à mãe, Francisca, que desaparecera sete anos antes.

E trata-se, de facto, de um filme sobre a importância das mães: as protetoras como Raimunda, que não hesita em poupar à filha a culpa de ter morto o próprio pai, quando dela quisera abusar sexualmente. Ou Irene, que se escondera em casa, a coberto da falsa notícia sobre a sua morte num incêndio, e transformara-se num fantasma, que acaba por ser desmascarado pelas filhas, precisamente quando lhes morre a cúmplice na trafulha, essa tia Paula que carece que a tratem de sepultar.

Quase só integrando personagens femininos, é um filme fotograficamente muito belo, porque Almodovar quis nele verter a paleta de cores de uma região, que nos amarelos, ocres e castanhos encontra cromática exuberância. Mas sem omitir a mentalidade conservadora de um ambiente em que todos cochicham os segredos e mentiras dos vizinhos por muito que estes procurem esconde-los dentro de casa. 

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