domingo, setembro 04, 2022

Moonlight, Barry Jenkins, 2016

 

Recordo que, na altura da estreia do filme, a disponibilidade era escassa pelo que, sem grandes estados de alma, achei-o dispensável. Agora, uma mão cheia de anos depois, não enjeito a decisão: se Moonlight  é um filme competente, bem construído, fotografado e interpretado, não me suscitou maior entusiasmo do que reconhecer-lhe essas qualidades, sem as que mo tornariam doravante inolvidável.

A priori há uma intriga convencional: um miúdo dos bairros pobres de Miami, “educado” por uma mãe toxicómana, vai receber lições de um pai de substituição sobre como enfrentar a vida. É esse o primeiro ato de uma história, que conta três, com Chiron interpretado por outros tantos atores diferentes. Depois de vê-lo criança, descobrimo-lo adolescente, acabando o filme quando já se consolidara como adulto, singularmente a replicar o mesmo percurso, que esse Juan de quem recebera tão determinantes conhecimentos. De miúdo, quase mudo na sua timidez, converte-se num homem musculado, que criou a armadura como forma de sobreviver.

Não se trata de uma descida aos infernos porque, pelo contrário, deparamo-nos com a reinvenção identitária de quem é capaz de olhar com amor e perdão para quem tanto o fez sofrer no passado. Por isso é um filme sobre a dor, a ostracização social e o quanto é-se fruto do ambiente em que se cresce,

Na abordagem da homossexualidade existe uma consonância com Brokeback Mountain, quando importa ganhar um aspeto hiperviril para iludir a pulsão, que Chiron sente dentro de si e o leva a assumir um modelo de vida castamente monástico. E questiono-me se não terá sido a associação ao cinema LGBT, que garantiu ao filme a notoriedade, que não mereceria, dada a frieza com que Jenkins revela a evolução do protagonista. É que, chegado ao termo, fica-me a sensação de ter assistido a um estudo de caso com atores contratados para interpretarem os papéis congeminados pelos argumentistas, mas sem os sentirem intimamente seus... 

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