Numa plantação de tabaco em Cuba o repórter surpreende-se com o facto de tudo continuar a ser feito à mão, tal qual vem ocorrendo há séculos.
Sussurro que quando virarem para o capitalismo passa tudo a ser mecanizado!
Parecendo ter-me ouvido o capataz da cooperativa afiança:
- Não há máquina que consiga fazer melhor o trabalho do que as nossas mãos!
E, de facto, algo explicará que os charutos cubanos sejam tidos como os melhores entre os muito bons. O clima e o relevo terão alguma influência, mas o comportamento humano será pedra de toque. Até porque, poeticamente, o mesmo interlocutor diz que as plantas do tabaco devem ser cuidadas como uma mulher, ou seja, com intermináveis carícias.
Mais adiante, já na fábrica, onde se enrolam as folhas secas para lhes dar a forma final com que se exportarão os respetivos charutos, surpreende-nos haver uma leitora a relatar as notícias destinadas a distrair os homens e as mulheres ocupados nas repetitivas tarefas. A preocupação é evidente: mesmo que alguns digam tratar-se de propaganda, haverá a intenção de garantir que os trabalhadores sejam pessoas informadas, capazes de ajuizarem o sentido do que vão escutando. Até porque outras leituras lhes ocuparão as mentes durante as horas de trabalho. Romances, contos, livros de História. Não admira que pareçam ser povo com uma cultura muito acima da média ocidental. O diabo será quando o vício consumista entrar ilha adentro e confirmar o já constatado nas sociedades do leste europeu: de nada valeu essa qualidade intelectual, que levava operários ao Bolshoi ou ao Ermitage, porque, contaminados pelo capitalismo selvagem, logo se rendem aos mais populistas, aos que porfiadamente eliminam as veleidades igualitárias do passado dito comunista.
É verdade que Cuba tem má imprensa junto dos órgãos de comunicação ocidentais. Não há pindérico comentador, que dali não sobressaia a faceta ditatorial como se fossem sonegados direitos, que os cidadãos das sociedades capitalistas usufruíssem em pleno. Mas em Cuba há o direito à educação e à saúde que aqueles almejariam ter. E um ritmo de vida tão diferente da aceleração competitiva de quem tem de sprintar para não perder o emprego numa competitividade, que justifica a ingestão de prozacs.
Mesmo com tanto que se lhe possa criticar, Cuba continua a ser terra onde se pressente o que poderia ser a utopia acaso não subsistissem os bloqueios e o fascínio pelo sonho americano não iludisse quem não valoriza o que de melhor tem no dia-a-dia.
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