No mesmo dia em que surgiu a notícia da morte da jovem professora palestiniana, de 27 anos, que se encontrava hospitalizada há várias semanas após um atentado sinistro da extrema-direita israelita, que já lhe levara o marido e um dos filhos, foi apresentado em Veneza o mais recente filme de Amos Gitai, dedicado ao último dia na vida de Yitzhak Rabin.
Façamos o tempo regressar a vinte anos atrás: então, por esta altura e sob o beneplácito de Bill Clinton, Rabin e Arafat estavam a abrir uma janela de oportunidade para a existência de dois Estados onde hoje só existe um, Israel, e os territórios ilegitimamente conquistados depois das guerras de 1967 e 1973.
Sempre considerei um paradoxo o facto de um dos povos mais martirizados no século XX ter-se convertido num dos mais opressores do século XXI.
Gitai demonstra que não tinha de ser assim: havia uma alternativa que viria a ser estilhaçada por um fanático ao assassinar Rabin em 4 de novembro de 1995.
Rejeitando qualquer teoria da conspiração Amos Gitai coloca uma tese pertinente: o extremismo religioso serve de idiota útil a uma direita aparentemente civilizada, mas apostada em conseguir os seus fins custe o que custar. E lá surgem precisamente manifestações de há vinte anos, quando Netanyahu proclamava a sua discordância contra os Acordos de Oslo e, na assistência, viam-se cartazes a pedir a morte de Rabin.
Foi uma questão de poucas semanas: Rabin acabaria assassinado e, vinte anos e muitos milhares de mortes depois, o Médio Oriente continua a ferro e fogo.
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