Sei não tratar-se de opinião popular, mas as coisas são como são: por muito que lhe reconheça o mérito não conto vir a perder mais tempo precioso a revisitar os Lusíadas. Por isso nem sequer tenho olhado para as propostas televisivas, que surgem a propósito do quinto centenário do nascimento do poeta, mesmo que algumas das atrizes contratadas para lhe recitarem os versos sejam das que mais respeito entre as que estão ativas.
Há mérito, decerto, na organização de toda a obra em oitavas feitas de decassílabos (e a tortura que foi obrigarem-me a comprovar essa divisão em esforço absurdo para que não vi qualquer sentido!) e não ignoro o lado subversivo da Ilha dos Amores embora imaginar os façanhudos “descobridores” a enrolarem-se nas belas ninfas constitui exercício, que só justifica a pena por tão belas criaturas ficarem entregues a tão bárbara gente.
Subscrevendo o que Rui Zink disse sobre o vate - um lambe-botas para com um fraco rei de quem pretendia receber tença - critico, sobretudo, a mistificação histórica que fez dos nossos antepassados uns heróis, quando eram afinal uns gananciosos assassinos, que andavam a “expandir a fé e o Império” desde que isso lhes garantisse a riqueza, que não tinham, nem viriam a ter.
Quem deles deu a verdadeira caracterização foi Fernão Mendes Pinto, também visitante das Ásias nessa mesma altura e que os mostrou como violadores, assassinos, ladrões e cobardes. Por isso, a bem da verdade histórica estou muito mais propenso a reler a obra do mais fiel cronista dos ditos descobridores por muito que quisessem-no crismar de mentiroso. Com o mérito suplementar de ter morrido almadense...
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