quarta-feira, agosto 14, 2024

Apontamentos Cinéfilos (XVI): A Rapariga da Fonte, que não o era propriamente!

 

Se Federico Fellini me  motiva sentimentos contraditórios - gostei de tantos dos seus filmes, mas nunca esqueci o quanto se conotou politicamente com a Democracia Cristã (apesar de tanto satirizar o clero!)! - Anita Ekberg nem tanto.

Recordo, obviamente, a cena na Fonte de Trevi, que justifica o título do documentário que, sobre ela, Antongiulio Panizzi assinou em 2021, mas, nem me deixei fascinar pela sua tão propalada beleza, nem muito menos me impressionaram os dotes de atriz.

Embora tenha querido ser sempre dona da sua vida bastaram as escolhas conjugais - um primeiro conjugue mais interessado nas garrafas de whisky do que nela, e um segundo que tudo lhe roubou! - para concluir que a sensatez não era propriamente das suas maiores virtudes.

Razão para duvidar que uma abordagem da biografia e filmografia da sueca pudesse resultar em algo de interessante. Panizzi procurou encontrar a quadratura do círculo convidando Monica Bellucci para a encarnar no filme, sabendo à partida o quanto as opunha, quer fisicamente—uma loira de olhos claros, a outra uma mediterrânica morena -, quer no feitio. Mediante esse artificio o realizador quis abordar o papel da mulher na arte cinematográfica, mormente quando a idade tende a forçar a precoce reforma, ou ao deixar-se enredar num estereotipo de que não seja capaz de se livrar.

Talvez por não sentir empatia com a biografada não me rendi à caução feminista implícita no artifício comparativo com o pensamento da ícone italiana. A hora que o exercício dura nada vale em comparação com os minutos em que Fellini a pôs a romper as águas da fonte romana com as possantes coxas... 

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