1. A leitura dos livros de Woody Allen rivaliza em prazer com a fruição dos filmes, mesmo os menos conseguidos na sua filmografia. Porque as pérolas, aqui e além, são muitas e dão que pensar. Nele encontro, nomeadamente, um dos argumentos para o arreigado ateísmo: “Prefiro a ciência à religião. Se tiver de escolher entre Deus e um ar-condicionado, fico com o ar”.
Decididamente, e apesar da pegada ecológica não ser a recomendada, prefiro o ar condicionado, sobretudo nos dias de calor que se avizinharão.
2. Uma das mistificações maiores sobre a China é a pretensão em como um punhado de brancos, mormente comerciantes e jesuítas, chegaram à China e causaram uma profunda revolução cultural.
Um país, que possuía uma cultura milenar e era regida por valores solidamente imbuídos em quem a vivia, poderia olhar com interesse para os estrangeiros para deles colher o que pudessem trazer de maior interesse, mas daí a “ocidentalizarem-se” vai distância de tomo.
3. Mao Zedong foi celebrado pelo regime fundado em 1949 como poeta de mérito: os seus textos literários eram decorados e lidos como sábios no conteúdo, ricos no sentido das metáforas para as quais os admiradores eram desafiados a encontrar as pretendidas chaves. Muitas vezes com consequências trágicas para quem por eles seria visado!
Ele mais não fez do que seguir a tradição dos mandarins, que ascendiam aos cargos governativos em representação dos imperadores depois de longos estudos, que os versavam na poesia dos intelectuais do passado.
Invejável civilização a que obrigava os que detinham o poder de decisão sobre os semelhantes a serem também poetas!
4. Nas mistificações sobre a região importa lembrar que nunca Macau foi “dada” aos portugueses pelo imperador da altura, que apenas lhes dava a permissão de ali comerciarem.
Os supostos direitos históricos do “império” português sobre a mais distante das suas “possessões” contiveram muitas dessas falácias para justificarem uma dimensão épica e moral que nunca foi a dos ditos Descobrimentos.
Por muito que possamos enfatizar os avanços tecnológicos ligados a essa estratégia identitária dos nossos antepassados, eles não deixaram de ter com os atuais descendentes a lógica de buscarem riqueza noutras geografias já que a própria lhes prometia tão pouco. E não enjeitando formas menos escrupulosas de a conseguirem, porque ninguém lhes tira o demérito de terem explorado sem pudor o tráfico negreiro.
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