Olho para uma reportagem sobre Curzio Malaparte e constato ter o seu título mais famoso - A Pele -, arrumado numa das prateleiras recuadas das estantes para a possibilidade de o reler e confirmar a impressão colhida ao fim da adolescência: apesar de causar tanto impacto na geração universitária em vésperas do 25 de abril, não me causou assim tanto efeito. Parafraseando Shakespeare: pareceu-me exemplar no ser much ado for nothing, embora a comédia em causa acontecesse em terra de outro grande vulcão.
É certo que, quando a conheci, Nápoles pareceu-me tão suja e desagradável quanto ele a descrevera, mas sem a mística antiga capaz de perigar a segurança dos ocupantes norte-americanos por ele evocados como complacentes com o mercado negro e outras formas de corrupção capazes de dar ao período da Libertação uma sensação de decadência humana. Mas vendo algumas vezes o Etna em erupção - recortando-se alaranjado no negrume da noite vista ao largo da Sicília - nunca tive do Vesúvio mais do que umas inocentes fumarolas.
Acontece que, mal informado, desconhecia que Curzio Malaparte fora prosélito de Mussolini antes de virar a casaca e ganhar estatuto de opositor, que lhe garantiu emprego como elo de ligação entre as novas autoridades e os patrões dos G.I.’s. Porque não acredito na redenção de quem foi fascista - basta ver na rápida conversão de uns quantos salazaristas-marcelistas depressa regressados à anterior pocilga, quando viram esfumado o papão comunista! - uma eventual releitura (tão improvável quanto pegar na Viagem ao fim da noite do Céline, que lhe faz companhia) seria naturalmente condicionada por esse filtro.
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