sábado, maio 18, 2024

Histórias Exemplares (XXVIII) - O Mikado enquanto programa de vida

 

Dos atuais escritores italianos Erri de Luca é quem sigo com maior interesse embora muito o distam dos tempos do militantismo mais ativo numa esquerda apostada em mudar a vida dos que  vendem a força do trabalho aos do costume

No romance mais recente estamos na fronteira entre a Itália e a Eslovénia, numa zona montanhosa procurada por um relojoeiro para, qual misantropo, devolver ordem ao caos da vida passada, seguindo as regras de um jogo adequado para avivar a destreza, a memória, a precisão.

Numa noite de invernia vê a tenda invadida por uma adolescente cigana, escapada da família, que a pretendia forçar ao casamento com um homem bem mais velho.

Dos diálogos entre ambos nasce uma cumplicidade que se prolonga para além dos tempos subsequentes, quando as cartas servem de veículo para prosseguir a função de mentor. Embora o caderno que dele chega à jovem, quando as missivas se interrompem, contenham uma confissão, que lhe causam - e a nós leitores que com ela nos identificamos! - uma perceção distinta da que tivéramos até então.

Evidente a coincidência entre o personagem do relojoeiro e o autor, que ajuda a explicar as mudanças, com que os anos foram moldando um autor quase ignorado entre nós.

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