É uma das questões pertinentes, que o volumoso ensaio de Andrea Wulf suscita: como foi possível encontrar numa pequena cidade leste-alemã, que então se percorria num mero quarto de hora, uma tão profusa quantidade e qualidade de intelectuais, capazes de lançarem uma revolução no pensamento dominante, que daria primazia ao Eu e crismada sob a etiqueta de idealismo alemão?
Iena foi essa cidade que, sobretudo entre 1794 e 1801, fervilhou com as discussões entre Goethe e Schiller e a quem se associaram, entre outros, Fichte, Novalis, Hegel e os irmãos Humboldt e Schlegel.
Vivia-se o rescaldo da Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte ainda não se desmascarara totalmente enquanto títere de uma classe dominante europeia pronta para descartar o que a monarquia possuía de incongruente com a crescente industrialização das economias, e substituí-la por outras vertentes musculadas de chefes fortes, mais ou menos imperiais, mais ou menos fascistas e neofascistas.
O que os intelectuais românticos de Iena valorizaram era a ciência e a experimentação contra as falácias dos preconceitos e mistificações religiosas. E nessa personalidade admirável, que foi Carolina Böhmer já se levava à prática a liberdade sexual capaz de escandalizar os conservadores, que a marginalizavam como libertina.
Quando Iena foi saqueada pelas hostes napoleónicas, Hegel conseguiu evitar que a Fenomenologia do Espírito acabasse em cinzas e fosse uma das obras fundamentais para que Marx viesse a teorizar o seu materialismo dialético. Mas essa é história ulterior à que Andrea Wulff aborda num ensaio tão entusiasmante.
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