Esta foi a semana de comemoração do centenário de nascimento da escritora e atriz italiana Goliarda Sapienza que, em A Arte da Alegria criou o retrato de uma mulher livre e inconformista ao longo do século XX. Embora diferente de Elena Ferrante, a sua obra também contribui para caracterizar a condição feminina na bota transalpina.
Romance volumoso de quinhentas e tal páginas, mais do que esgotado entre nós, levou mais de dez anos a ser escrito e só foi publicado postumamente graças à persistência do último dos seus companheiros, o também escritor Angelo Pellegrino, que acaba de publicar uma versão pessoal sobre o seu crepúsculo.
Só assim acedemos às vicissitudes libertinas da protagonista, Modesta, mediante uma descomprometida opção estilística, que nada deve a um cânone preciso.
A iniciar a história (semiautobiográfica) há a violação de Modesta pelo pai, aproveitando Goliarda para recorrer à sua própria experiência (não se sabe se real se fantasmática), que procurara resolver pela psicanálise. A bissexualidade da personagem também muito deve ao fascínio sempre assumido pela autora em relação às mulheres.
Sobram bons motivos para voltarmos a uma obra mal conhecida, que merece encómios exaltados nalguns dos seus admiradores.
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