Foi para homenagear os amigos que conhecera nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial que Blaise Cendrars escreveu esta narrativa de memórias em 1946. Evoca o que então vivera após a apreciável experiência de viajante, que o levara a distantes paragens. Mas há, sobretudo, o preito ao filho Rémy, morto num acidente aéreo em Marrocos depois de sobreviver a todos os combates em que participara durante a guerra mais recente.
Constata Cendrars: “Apresso-me a dizer que a guerra não é bonita e que, quando nela estamos envolvidos enquanto algozes, vemos sobretudo um homem perdido nas fileiras, um número de série entre milhões de outros, demasiado estúpido por não obedecer a qualquer plano geral, mas ao aleatório. À fórmula “ande ou morra” podemos acrescentar este outro axioma: avança enquanto te empurrar! E pronto, vamos, empurramos, caímos, morremos, levantamos, andamos e recomeçamos. De todas as imagens das batalhas que presenciei, só trouxe a de uma tremenda confusão.”
Numa altura em que as guerras continuam a caracterizar este presente, que deveria estar concentrado numa outra bem mais importante - a da salvaguarda da civilização perante os desafios das mudanças climáticas - a leitura deste livro surge justificada pelo reencontro com o absurdo em que se perdem mãos, braços, o juízo, e até a vida, em nome de interesses, que quase nunca coincidem com o verdadeiro interesse das vítimas.
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