Os realizadores de cinema já recorreram a todos os cenários possíveis para situarem as suas histórias, mas houve quem não se limitasse a utilizá-los como décor, deles colhendo uma nova inspiração, uma metamorfose. Foi o que sucedeu a Jean Epstein - já então um dos grande nomes da vanguarda francesa - quando, em 1928, foi descansar do bulício parisiense para a ilha de Ouessant ao largo da Bretanha, e se deixou inspirar pelo que aí viu.
Decidiu então rodar aí o primeiro dos sete filmes, que situaria nessa região, reforçando a tendência para a afirmação de um novo tipo de cinema, depurado dos clichés dos profissionais, porque recorrendo a pequena equipa técnica e à população da ilha para preencher o elenco de atores e figurantes.
Finis Terrae, assim se chamaria esse filme, tem por protagonistas esses homens, nem inteiramente lavradores, nem pescadores, que passavam parte do ano a colher sargaços a algumas milhas da costa. O enredo cingia-se à sua luta contra as forças da Natureza, traduzidas em violenta tempestade, e na ansiedade das mulheres que, na praia, procuravam sinais do seu regresso a casa.
Embora com um conteúdo ficcional o filme constituiu um documento antropológico ao detalhar os gestos dos sargaceiros, algo que Epstein já vinha fazendo com outros mesteres, presentes nalguns dos doze filmes anteriores.
Não sendo ainda o neorrealismo ao jeito dos italianos do pós-guerra, Finis Terrae foi-lhe precursor ao representar aquilo que o realizador designou como “realidade bruta”.
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