terça-feira, dezembro 03, 2024

HISTÓRIAS EXEMPLARES: Seguramente um fenómeno sem relação com a moda

 


É com prazer sempre reiterado, que ouço as gravações de concertos dirigidos por Sergiu Celibidache. Para além do profundo conhecimento das obras o maestro romeno era conhecido pela intenção de dar-lhes a ouvir os mais preciosos detalhes num registo mais lento, que muito exigia dos instrumentistas. Daí que fizesse questão em ter mais ensaios do que eles estavam acostumados com outros titulares da batuta e lhes prodigalizasse explicações, senão mesmo ríspidos reparos na origem da sua fama de intratável para muitos deles. Embora outros o idolatrassem pela inaudita genialidade.

Terá sido esse feitio difícil, que lhe deu uma das maiores agruras da sua vida: em 1954 a orquestra da Filarmónica de Berlim votou em Herbert von Karajan para sucessor de Wilhelm Furtwängler, apesar de ter sido ele a, nos nove anos anteriores, ter-lhe comandado os destinos por afastamento daquele que, fiel seguidor dos nazis, se vira obrigado a passar por humilhante processo redentor.

No ano passado Philipp Quiring rodou um interessante documentário sobre essa desfeita, que levara Celibidache a prometer nunca mais  relacionar-se com a instituição, e relacionando-a com a reconciliação operada trinta e oito anos depois por influência do então presidente alemão Richard von Weizsäcker.

Os vários depoimentos e imagens de arquivo deixam implícita, mas não se focalizam numa evidência: enquanto Karajan apostou numa autopromoção, que o tornaram particularmente querido pelo público mais tentado pela frivolidade dos fenómenos de moda, Celibidache manteve-se fiel, até à morte em 1996, à austera e exigente fidelidade para com o que considerava a quinta essência da música erudita. Razão bastante para, em geral, trocar a generalidade das gravações de Karajan por uma de Celibidache. Mormente na 7ª de Bruckner, que integrou o programa do concerto de 1992. 

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