Sei que é próprio da sua escrita, mas A Morte do Comendador de Haruki Murakami exagera na lentidão, nas informações repetitivas, nos detalhes insignificantes e irrelevantes. Por isso mesmo as quase 900 páginas bem poderiam ficar reduzidas a metade se depuradas do que nelas pouco interessam.
Vem isto a propósito de estarmos à beira da designação do Nobel da Literatura e o japonês ter lugar cativo no lote dos candidatos. Mas surpreender-me-ia bastante se fosse ele o escolhido embora, depois do prémio atribuído ao baladeiro americano, conhecido investidor nas empresas de armamento, já não se justificaria o assombro.
Assombro é precisamente o que se passa com o pintor, que protagoniza este romance grande (e não o seu contrário) de Murakami: perante o divórcio pedido pela conjugue ele instala-se em casa emprestada nas montanhas de Odawara e descobre um quadro do anterior residente escondido no sótão. Tanto basta para um percurso iniciático em que cabem o mito do Don Giovanni, o fascínio por uma versão local do fitzgeraldiano Gatsby, a queda por um túnel mais lúgubre do que o de Alice por incorporar a versão do barqueiro no Hades e um indefinido episódio no Anchsluss de 1938.
Murakami executa uma receita tendo por condimento o imaginário de uns quantos autores e, no final, até devolve o seu personagem ao ponto de partida: à esposa, que o traíra e lhe dá uma filha, que assume como sua como se lha tivesse gerado num sonho.
Sem comentários:
Enviar um comentário