Que difícil seria vivermos sem amigos: que o digamos nós, eu e a Elza, que de tantos temos colhido as melhores provas de generosidade neste período difícil, que a doença veio a impor-nos neste crepúsculo da vida.
Alain Cavalier também tem esse privilégio e, como vai filmando quotidianamente tudo quanto vive, detém milhares de horas por montar que chegariam para tornar este L’Amitié apenas um dos muitos filmes de que rechearia a já vasta obra.
Neste título de 2022 ele revela-nos três desses amigos, de diferentes condições sociais e que parecem nem sequer se conhecer entre si.
Boris Bergman foi o autor das letras cantadas por Alain Bashung e foi sempre um boémio hedonista com muitas histórias por contar.
Maurice Bernart produziu Thérése, o filme de Cavalier com melhor desempenho comercial, e tem um estatuto de grande senhor a viver modestamente uma razoável reforma.
Thierry Labelle já era estafeta, quando entrou num filme de Cavalier há duas décadas e mantém essa profissão, que lhe garante uma qualidade de vida modesta, mas de que sente orgulho.
São três estilos de vida, que Cavalier reporta como se o filme fosse uma espécie de making of por conter cenas em que vai sugerindo aos entrevistados para se posicionarem de acordo com as suas instruções. Mas, com todos eles, há a empatia de terem experiências partilhadas e conceitos de vida semelhantes. O que fundamenta a cumplicidade de que, com todos eles e respetivas esposas, dá mostras!