quarta-feira, setembro 11, 2024

Histórias Exemplares (XXXIX): O último concerto de Arthur Rubinstein

 

Foi uma lição de vida, que Daniel Barenboim confessa dele ter colhido: a aceitação do inevitável - sem “ses” - para ser-se feliz. 

Arthur Rubinstein continua a ser uma referência incontornável do piano e o seu concerto de despedida, em abril de 1975, quando estava à beira de cegar, é um documento notável, que merece ser fruído com a devida atenção. E, no entanto, confesso não ter Chopin entre os meus compositores de eleição, por o conotar com o lado mais lamechas do romantismo. Mas a interpretação do concerto para piano nº2, opus 21, nega esse sentimentalismo piegas, que vemos assumido por muitos dos intérpretes atuais.

“Ele tocava como um aristocrata polaco”, diz o mesmo Barenboim, que o teve quase como um pai substituto ao facultar-lhe o primeiro cigarro e o primeiro vodka aos catorze anos. E o via a ler Dostoievski em russo, Baudelaire em francês, Shakespeare em inglês ou o Quixote em espanhol.

Homem de profunda cultura conseguiu demonstrar como o piano poderia ao mesmo tempo insinuar uma conversa e uma musicalidade na história por ele contada com a partitura de um compositor. Por isso, sabendo-se prestes a perder muitas das suas faculdades apostou na filmagem da interpretação desta peça, que sempre o acompanhara, para dela dar a sua versão definitiva ... e superlativa! 

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