Foi dos melhores concertos a que eu e a Elza assistimos: em 2006 Mega Ferreira estava à frente do CCB e, havendo ainda dinheiro para replicar em Lisboa parte do que sucedia nas Folles Journées de Nantes, contava com a colaboração de René Martin para a organização de mais uma festa da música que, nesse ano, teria como tema o Barroco.
Num desses concertos pudemos ver François-Xavier Roth a dirigir a suite das Indes Galantes de Jean Phillipe Rameau, que serviu aliás de tema musical anunciador do festival.
Desconhecia estarmos então perante aquele que já era, mas mais se tornou, num dos mais interessantes maestros da atualidade. Aquele que Barenboim exalta pela versatilidade com que aborda diversas épocas, ou Simon Rattle considera um verdadeiro mágico ao arriscar-se em aventuras, que quase mais ninguém ousa experimentar.
E, de facto, o antigo flautista que, desde muito cedo, soube não lhe bastar a interpretação do seu instrumento, porque pretendia estudar e dar a conhecer as grandes obras de que descobre as mais subtis nuances, só merece elogios dos que com ele trabalham, sejam os solistas que são cúmplices das suas propostas, quer os que são por ele dirigidos, quer nas mais importantes orquestras europeias, quer nos amadores com quem tanto gosta de trabalhar.
Lembro que, depois de me ter entusiasmado com a música de Rameau, vi-o a comer uma sande na cafetaria do CCB e fiquei na dúvida se o deveria ter ido cumprimentar em agradecimento por quanto prazer sentira durante o espetáculo mas, ao contrário, do que costumo fazer nessas ocasiões, retive a intenção. Afinal ele parecia estar a refletir tão profundamente enquanto degustava o lanche, que pareceria sacrilégio interrompe-lo. Mas, tantos anos passados, ainda sinto alguma contradição entre o saber ter agido corretamente e a pena de não ter-lhe manifestado a admiração, que me continua a suscitar...
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