Se há inovação atribuível a Agatha Christie no género policial a mais significativa é a da importância da cena final como clímax revelador da autoria do crime. Embora também se deva atender à dualidade entre um detetive particularmente arguto e um parceiro ingénuo, ou a ocorrência do homicídio num local pitoresco e tranquilo.
A partir do triunfo como escritora, Agatha Christie viu replicadas muitas dessas características nos títulos dos seus seguidores, seja na literatura, seja nas séries televisivas ou no cinema.
Lançado em 1920 O Misterioso Caso de Styles, também publicado entre nós como A Primeira investigação de Poirot, já contém esses atributos ao fundamentar-se num crime macabro ocorrido em plácida região campestre.
Tudo começa com um misteriosa encomenda enviada a um editor londrino contendo o manuscrito de um romance destinado a tornar-se um singular fenómeno de vendas.
Quatro anos antes, em 1916, Agatha Christie, então com 26 anos, desposara Archie antes dele partir para os combates da Primeira Guerra Mundial, e alistara-se como enfermeira no hospital de Torquay. No resto do tempo disponível entreteve-se a escrever histórias.
Numa gravação, só descoberta em 2008, ouvimo-la de viva voz a contar que se habituara a inventar enredos e a interpretar diferentes papéis para vencer a solidão de lhe ter sido negada a hipótese de ir à escola em criança. Em suma para vencer o tédio.
Terá sido esse hábito a estimulá-la a escrever, e publicar, um romance para demonstrar à irmã, Madge, que não tinha razão quanto a dizê-la incapaz de o conseguir concretizar.
Como protagonista do romance surge um detetive belga particularmente orgulhoso das suas celulazinhas cinzentas, inspirado por algum dos muitos refugiados do continente, que haviam buscado salvação na sua região. E ele virá a aparecer em trinta e três romances, três peças de teatro e cinco dezenas de contos, com que ela alimentará boa parte da sua bibliografia.
No caso passado em Styles Poirot já era o homenzinho baixo, de bigode amestrado com cera e tão cioso da sua dignidade, que conferia particular importância à forma como se apresentava aos outros. A tal ponto que dir-se-ia mais preocupado com um grão de poeira no fato do que por um tiro, que o molestasse. E assinale-se uma inegável dose de ironia na escolha do másculo nome de Hercule para o identificar.
Pouco se sabe do seu passado, do que sente ou sequer pensa. Mas curioso e capaz de causar empatia com os leitores.
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