quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Histórias Exemplares (VII) - Ir ao fundo e voltar

 

1. A reportagem de Louis Theroux com alguns conhecidos militantes da mais extrema das extremas-direitas norte-americanas é elucidativa quanto à sua perigosidade se atendermos o quanto quase fazem passar o comum dos trumpistas por gente respeitável, não sendo difícil percecionar a facilidade com que poderão passar da mera expressão de palavras odiosas para a ação terrorista.

Se é certo que muitos deles fizeram das plataformas nas redes sociais a ferramenta para enriquecerem à conta de quem neles cré e subsidia sem escrúpulos, a perniciosidade da sua atividade facilita o ressurgimento do candidato republicano às eleições de novembro e arrasta jovens incultos para opiniões, que os transforma em potenciais golpistas como sucedeu com a invasão do Capitólio.

Há, porém, uma outra reflexão a fazer sobre essa gente: questionar porque, no passado, foram as esquerdas a apossarem-se normalmente das novas tecnologias para potenciarem a intervenção ideológica, e agora permitiram às direitas a quase exclusiva utilização dessas ferramentas.

Parece evidente que a guerra pela Democracia, e contra o capitalismo enquanto montada dominante do  possível apocalipse ecológico, terá de passar pela alteração de forças nessas vias de transmissão de mensagens políticas.

2. O meu passado de “marinheiro” que, como aludia Mishima num dos seus mais belos romances, “perdeu as graças do mar “, faz-me atento seguidor de tudo quanto se vai produzindo em torno da exploração científica dos destroços do Titanic. Para constatar que, curiosamente, ainda vão surgindo novidades sobre aquilo que já dávamos como totalmente adquirido. Por exemplo que o funesto icebergue teria provocado um enorme rombo no casco, que explicaria o afundamento do navio supostamente defendido de todas as ameaças nesse sentido. Agora conclui-se que, afinal, a montanha flutuante de gelo causou pequenos buracos ao longo do casco e foram eles a explicar a relativa lentidão com que o navio foi assentar no leito oceânico.

Igualmente desmentida a tese do casco se ter partido em dois, quando o navio ainda estava semiemerso. A mesma investigação científica demonstrou que isso sucedeu, quando já ia a meio da descida para o abismo.

E, conclusão mais inquietante para quem tem ganho o sustento à conta dessa mesma investigação: acelera-se a inesperada rapidez com que os destroços estão a degradar-se por conta das bactérias apostadas em fazê-lo desaparecer. O filão está, de facto, a possibilitar o deslindar das últimas novidades sobre o mítico navio...

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