1. Nascido numa família privilegiada não seria lógica a atração de Gus Van Sant pelos ambientes marginais acaso lhe ignorássemos a identidade sexual, que justificou a homossexualidade como tema explícito, ou latente, em muitos dos seus filmes.
Revisitando Paranoid Park, que rodou em 2007 com atores não profissionais e baixo orçamento, está lá outra das suas obsessões: a da adolescência como época determinante na vida de cada um por ser quando a personalidade ainda não se definiu e o futuro permanece em aberto. De alguma forma o que já abordara nas derivas dos personagens de Drugstore Cowboy em 1989 e My Own Private Idaho em 1991, que também tinham Portland como destino, a cidade em que rodaria o filme agora revisto e integra uma espécie de trilogia de reencontro com a própria adolescência ali vivida nos anos sessenta.
2. Louis Botha - que tem o mesmo nome de um dos mais sinistros governantes sul-africanos, quando o apartheid estava a afirmar-se como sistema de opressão da maioria da população -, é um dos mais interessantes fotógrafos atuais, captando imagens com que tenta pintar o tempo com a luz. O título de um dos seus álbuns - “Slow down, look again” - constitui em si mesmo todo um processo de intenções criativas. É que, embora privilegiando o Karoo, no interior leste sul-africano, como espaço da sua eleição e tão aridamente plano quanto as paisagens do Texas, do Novo México ou do Arizona, não deixa de se fixar igualmente na população mestiça, que aí vai sobrevivendo a dar tratos à imaginação para contornar a falta de água.
3. No verão de 1953 uma rapariga de 18 anos aborrecia-se de morte nas praias atlânticas de Hossegor e encontrava como alternativa a escrita de um romance, que logo se transformaria num enorme sucesso literário: Bonjour Tristesse.
François Quoirez ainda desconhecia a Côte d’Azur, mas idealizava-a como cenário para as inquietações de uma rapariga a contas com os meandros da sua sexualidade.
As incoerências eram óbvias com a referência aos banhos nas águas frias às onze da manhã ou aos vastos areais em que as costas mediterrânicas são bem mais parcos. Mas a trama adequava-se às preocupações da época e o romance vendeu-se como pãezinhos, logo traduzindo-se numa adaptação hollywoodiana a cargo de um dos seus mais conceituados realizadores.
Quando em 1954 a rapariga já descartara completamente o apelido verdadeiro substituindo-o pelo de Sagan, que estava nas bocas do mundo e a precipitavam no que designava como a “grande corrida”.
Terá sido esse o último verão em que a família a conseguiu arrastar para a praia da costa das Landes, porque Sagan logo optou definitivamente pela que fantasiara no ano anterior. E onde mergulharia, acelerador a fundo, na vida adulta com todas as ilusões e conflitos, que tornariam a sua biografia numa sucessão de episódios mediáticos, poucas vezes pelos melhores motivos.
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