quinta-feira, setembro 25, 2025

“José Fonseca e Costa, a luz no olhar” de Paulo Adrião (2012): a feliz revisão da matéria dada

 

Dos cineastas portugueses, e pese embora o muito que gosto dos filmes de João César Monteiro ou do Manoel de Oliveira, o José Fonseca e Costa é o que mais aprecio. Embora reconheça alguns falhanços significativos e, nalguns casos, imerecidos ("Os Demónios de Alcácer Quibir"), não lhe faltou a coragem e a determinação em mostrar o fascismo na sua faceta sinistra. Foi, aliás, por "O Recado", que entrei na sua obra e, desde então, fiquei seu fiel espetador.

Foi, pois. com um particular interesse que revi este documentário sobre a sua figura, por permitir a compreensão da sua dimensão humana e artística. A opção por Paulo Adrião revela-se acertada: em vez de um olhar de dentro do círculo íntimo, temos a perspetiva de um cineasta que, com o distanciamento necessário e um profundo respeito, se dedica a um meticuloso trabalho de arquivo e de composição.

O documentário de Adrião destaca-se pela estrutura clara e abrangente, traçando o percurso de Fonseca e Costa desde os tempos de crítico e de figura central na Cinemateca até à sua carreira como realizador. Através de um valioso conjunto de depoimentos do próprio e de colaboradores próximos, o filme consegue harmonizar as duas facetas do cineasta que tanto aprecio: o corajoso crítico do regime fascista com obras políticas e densas como "O Recado", e o contador de histórias sensível, que explorou o humor e a sensualidade em filmes como "Kilas, o Mau da Fita".

A abordagem de Paulo Adrião permite que a obra de Fonseca e Costa seja o centro das atenções, sem filtros excessivamente subjetivos. O resultado é um retrato sólido e informativo, uma homenagem séria e bem construída que permite reencontrar o cineasta na totalidade da sua obra e legado, confirmando a razão porque persiste uma referência importante no cinema português.

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