A imagem mostra uma figura solitária, envolta pelo vento e pela vastidão, segurando uma bandeira que se agita como se quisesse falar por todos os silenciados. Há beleza na composição — o contraste entre o tecido escuro e o céu difuso, o corpo firme e o olhar perdido no horizonte. É uma conhecida fotografia Tina Modotti: estética rigorosa, geometria emocional, e uma mensagem que não grita, mas ressoa.
Modotti nunca separou o belo do justo. Para ela, a arte não era ornamento, mas instrumento. Mesmo nas fotografias mais militantes — camponesas mexicanas com rostos marcados, mãos calejadas segurando ferramentas ou flores — há uma composição cuidada, uma luz que dignifica, uma forma que eleva. A beleza, para Tina, era uma forma de resistência.
Nascida em Údine, Itália, em 1896, Tina Modotti emigrou jovem para os Estados Unidos, onde começou como atriz e modelo. Mas foi no México, ao lado do fotógrafo Edward Weston, que encontrou a linguagem visual e política. Ali, entre muralistas como Diego Rivera e revolucionários como Julio Antonio Mella, Tina tornou-se mais do que artista: tornou-se combatente.
A câmara passou a ser uma arma de solidariedade. Fotografou mulheres indígenas, operárias, mães — não como vítimas, mas como protagonistas. A obra é um testemunho da dignidade dos oprimidos, especialmente dessas mulheres, cuja força ela captava com uma sensibilidade que misturava ternura e firmeza.
Militante comunista, Tina envolveu-se em causas internacionais, da Revolução Mexicana à Guerra Civil Espanhola. Foi perseguida, exilada, vigiada. Mas nunca deixou de acreditar que a arte podia ser revolucionária — não por panfletária, mas por humana.
Em 1942, Tina Modotti morreu subitamente num táxi na Cidade do México. A causa oficial foi um ataque cardíaco. Mas muitos, incluindo amigos próximos, suspeitaram de algo mais sombrio. Ela vivia sob vigilância, num clima de paranoia política. A sua morte, como a de Pablo Neruda quarenta anos depois, levanta dúvidas que talvez nunca se dissipem.
O poeta chileno, que a conheceu e admirou profundamente, escreveu-lhe um epitáfio comovente:
Tina Modotti, irmã, não dormes, não estás morta: estás no coração de todos os que lutam.
E assim permanece. Entre bandeiras que se agitam ao vento e olhares que desafiam o horizonte, Tina Modotti continua a ser uma presença — estética, ética, eterna.
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