terça-feira, julho 16, 2024

Apontamentos Cinéfilos (XV): Continuamos inquietos dez anos depois

 

Rever O inquieto, que Miguel Gomes estreou no ano do iminente dobre de finados sobre o passismo, implica perceber quanto a forma de o sentir não é muito diferente segundo aquilo que é a realidade em que nos movemos. No início deste ciclo AD adivinha-se que esta direita ainda não é a baleia moribunda dada à praia, mas deseja-se e pressente-se  que tenha o mesmo lamentável epílogo da do filme: que acabe por rebentar  de tão má que é!

No filme há muito do que oito anos de governos de António Costa não resolverem: a desindustrialização do país prosseguiu, mesmo sem o clamor mediático que a privatização dos Estaleiros de Viana do Castelo implicou.  E se não andam por aí os “homens de pau feito”, que mandavam empobrecer os portugueses para que os putativos donos melhor satisfizerem a ganância, a receita de Montenegro para comprar a relativa paz social faz ponderar na forte possibilidade de os ver regressar. E o desemprego ou o papel dos ciúmes na violência doméstica, nos fogos florestais e outras vicissitudes descontroladas são assunto que têm garantida atualidade, mesmo dez anos passados sobre os testemunhos dos três magníficos do filme.

Há sempre a possibilidade de um sindicalista adoentado imaginar redenções de ano novo. Nem que seja um banho de mar sem olhar para a fúria dos elementos à volta. A luta é, difícil, mas vale a pena continuar a assumi-la. Porque outra solução não há.

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