Ainda que continuando a validar uma check list pessoal de espetáculos ao vivo com grandes nomes da música erudita - ainda há dias isso sucedeu com o Gidon Kremer e a sua Kremerata Baltica! - há aqueles que, hélas, nunca me propiciarão esse prazer. O Maurizio Pollini, há pouco desaparecido, é um deles, embora por três vezes tivesse demonstrado incomensurável saber e talento no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian. O Claudio Abbado é outro exemplo e, nesse caso, a passagem por Lisboa coincidiu com as minhas deambulações oceânicas por outras geografias.
A alternativa reside, pois, em assistir aos concertos por eles proporcionados em diversas ocasiões e perenizados em gravações, que nos garantem a sua admirativa evocação.
No do Festival de Lucerna em 2004, quando Abbado ainda estava a recuperar do cancro, que o apoquentara quatro anos antes e, dez anos depois, o levaria à irreparável recaída - agora recordado pela programação da Arte no passado domingo - estão lá todos os argumentos para os incensarmos: na interpretação do Concerto para piano nº 4 de Beethoven, Pollini parece ter vinte dedos ao dar conta dos momentos mais intensos da obra. E é um luxo olharmos para a direção de Abbado ao usar a mão esquerda para bem mais do que apenas acompanhar os movimentos da direita: cada uma delas tem a própria autonomia, dirigindo-se a naipes distintos, inspirando até harmonias distintas.
A grande música continua a ser-me fonte de inexcedíveis deslumbramentos...
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